quinta-feira, 25 de março de 2010

A Poesia das Canções


Vou apenas expor a literatura poéticas realista das canções que conseguem trazer a beleza da literatura sem intervenção da melodia ou do interprete que a executa, pois, devido a sentimentos inspirado da criação melódica de cada um ou mesmo do interprete que a executa a letra dessa melodia poderá tomar um desempenho excelente ao sentido poético, por mais simples que seja o seu desempenho literário. A literatura da canção que se expões sozinha sem sua forma melódica e ainda assim trás a beleza de sua expressão poética é sem dúvida vista como uma excelente escrita de seu autor.
A primeira a ser exposta aqui é a "Stranger Fruit" que Billie Holliday e Nina Simone interpretaram em suas carreiras, mas recente é a nossa Indi. Arie. A interpretação de Indi. Arie não fica devendo nada para as grandes cantoras citadas acima. Stranger Fruit trás uma realidade de uma época em que essas vitimam sofreram humilhação, torturas e assassinados... A história nos trás o motivo do racismo, mas se a estudarmos com mais cuidado de sua desenvoltura dos detalhes mantidos longe de um público do “comodismo” veremos que não é só o motivo do racismo. O macabro do enredo se revela ao belo devido a criatividade do autor em sua literatura poética!
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Strange Fruit (Billie Holliday1939)
Hoje Interpretada/India.Arie

As árvores do sul dão frutas estranhas
Sangue nas folhas, sangue nas raízes
Corpos negros balançando na brisa do sul
Frutas estranhas penduradas nos choupos
Cena pastoral do corajoso sul
Grandes olhos salientes e a boca torta
Perfume de magnólia tão doce e fresco
E o cheiro inusitado da carne queimada
Essa é uma fruta
Para os corvos arrancarem
Para a chuva colher
Para o vento chupar
Para o sol apodrecer
Para a árvore deixar cair
Essa é uma estranha e amarga colheita...
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Época da ditadura brasileira, tempo de muito sofrimento feito não só pelos militares, mas principalmente por aqueles que os apoiava. Onde a história dos negros é mantida longe de nossos conhecimentos, um filme que mostra sutilmente esse fato é o Zuzu Angel, onde o negro não participa da boa obra por assim dizer, mas que muitos poderão se assim desejarem ver as fotos de mães, filhos e pai participando arduamente no desenvolvimento do nosso país...
A interpretação desta palavra “cálice” nada mais é do que “cale-se”.

Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que nem me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado, eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
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Todo poeta deixa em sua criação seus pensamentos emotivos em sua obra, por mais que essa obra seja realista. Temos que ter cuidado ao interpretar uma obra de literatura quando citamos a nossa própria opinião de interpretação sem a análise dos seus profundos detalhes conclusivos, pode-se tornar perigoso, pois, pode nos afastar da verdade expressiva de seu autor.


Como Nossos Pais
(Belchior)








Não quero lhe falar meu grande amor das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa
Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens
Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz
Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantada com uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais
Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que eu 'tô por fora', ou então que eu 'tô inventando'
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem
Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude
Tá em casa guardado por Deus contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos
como nossos pais
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Um hino sonoro foi cantado com letras que formou em palavras a melodia sonora de Geraldo Vandré! Nesta canção se faz presente o hino de liberdade do cidadão do povo simples... Nesta literatura poética desta canção, o enredo se faz na formação da letra composta, ou seja, a letra da musica é que enriquece a canção, coisa rara de se encontrar em canção...

Prá não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré)

Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Somos todos iguais braços dados ou não,
Nas escolas, nas ruas, campos, construções,
Caminhando e cantado e seguindo a canção,

Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer,

Pelos campos a fome em grandes plantações,
Pelas ruas marchando indecisos cordões,
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão,
E acreditam nas flores vencendo o canhão,

Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer,

Há soldados armados, amados ou não,
Quase todos perdidos de armas na mão,
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição:
De morrer pela pátria e viver sem razão,

Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer,

Nas escolas, nas ruas, campos, construções,
Somos todos soldados, armados ou não,
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Somos todos iguais, braços dados ou não,
Os amores na mente, as flores no chão,
A certeza na frente, a história na mão,
Caminhando e cantando e seguindo a canção,
Aprendendo e ensinando uma nova lição,

Vem, vamos embora que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
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Essa canção já trás o inverso da que citei acima... Tem uma letra simples, emocionante, mas mesmo assim não é a letra é a interpretação do autor da obra que trás a beleza à letra, e ainda acrescenta beleza para melodia também. Se prestarem bem nos detalhes notará que é uma letra realista com pouca poesia. A única que me fez refletir como é importante ser filho, a única que me fez usar um lenço...

Pai pode ser que daqui a algum tempo
Haja tempo pra gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos, pai e filho talvez
Pai, pode ser que daí você sinta
Qualquer coisa entre esses vinte ou trinta
Longos anos em busca de paz
Pai, pode crer, eu tô bem eu vou indo
Tô tentando vivendo e pedindo
Com loucura pra você renascer
Pai, eu não faço questão de ser tudo
Só não quero e não vou ficar mudo
Pra falar de amor pra você
Pai, senta aqui que o jantar tá na mesa
Fala um pouco tua voz tá tão presa
Nos ensine esse jogo da vida
Onde a vida só paga pra ver
Pai, me perdoa essa insegurança
É que eu não sou mais aquela criança
Que um dia morrendo de medo
Nos teus braços você fez segredo
Nos teus passos você foi mais eu
Pai, eu cresci e não houve outro jeito
Quero só recostar no teu peito
Pra pedir pra você ir lá em casa
E brincar de vovô com meu filho
No tapete da sala de estar
Pai, você foi meu herói, meu bandido
Hoje é mais muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sozinho
Você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz
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Sua voz é um dos maiores encanto poético de sonoridade musical que esse país tem. A letra desta canção, como também em tantas outras de sua autoria, mantém uma mensagem poética da expressividade de um povo simples, mas rico em seu expressar...

E vamos à Luta (Gonzaguinha)





Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão

Eu vou á luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e contói
A manhã desejada

Aquele que sabe que é negro o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser bresileiro

Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada

Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira

E nós estamos ‘pelaí’...

Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão

Eu vou á luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e contói
A manhã desejada

Aquele que sabe que é negro o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser bresileiro

Aquele que sai da batalha
Entra no botequim, pede uma cerva gelada
E agita na mesa logo uma batucada

Aquele que manda o pagode
E sacode a poeira suada da luta e faz a brincadeira
Pois o resto é besteira

E nós estamos ‘pelaí’...

Eu acredito é na rapaziada
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A letra dessa canção poderia ser incluída por mim na página "Cristianismo Infracto", pois trás com brilhantismo uma literatura esplêndida do autor, na formação da poesia sonora de seu canto ele se torna sublime no enredo que se cogita...
"Tem gente perto demais de Deus"





Tem gente perto demais de Deus
Tem gente que não deixa deus sozinho
e diz deus ilumine seu caminho
e guarda deus na cristaleira
cristo perto dos cristais
cristo assim perto demais
cristo já é um de nós
carne e osso pão e vinho
tem gente que não deixa deus em paz
tem gente incapaz de viver sem deus
e o trata como um funcionário seu
deus me livre, deus me guarde, deus me faça a feira
cristo dentro da carteira
dez por cento rei dos reis
cristo um conto de réis
o garçom não a videira
essa gente é o diabo e faz da vida de deus um inferno
beleza mano
a beleza zabelê
é uma forma de saber
de acreditar e ser
a beleza beleza beleza mano
em cada dia do ano
em toda hora vivida
pois quem entra pelo cano
há de encontrar a saída
saúde sossego gozo
quase sempre alegria
triste quando triste for
prá alcançar sabedoria
aprender com o engano
a reconhecer o exato
do demasiado humano
comer e lamber o prato
preto branco amarelo
é tudo mano parente
para embelezar o belo
zabelê siga em frente
doa a quem doer
nós somos do guarnicê
doa a quem doer
viva o amor e o prazer

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Esta canção além de trazer o talento do interprete na criação da melodia para composição da letra, trás descrita o que realmente surge ao se compor uma arte qualquer, “Uma viagem de imaginação disposta a transcrever à fantasia para a literatura ou à imagem refletida na visão de seu criador...” É sem dúvida uma poesia muito bem desenvolvida nesta canção.








Toquinho - Aquarela (1983)

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...

Corro o lápis em torno
Da mão e me dou uma luva
E se faço chover
Com dois riscos
Tenho um guarda-chuva...

Se um pinguinho de tinta
Cai num pedacinho
Azul do papel
Num instante imagino
Uma linda gaivota
A voar no céu...

Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Branco navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul...

Entre as nuvens
Vem surgindo um lindo
Avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar...

Basta imaginar e ele está
Partindo, sereno e lindo
Se a gente quiser
Ele vai pousar...

Numa folha qualquer
Eu desenho um navio
De partida
Com alguns bons amigos
Bebendo de bem com a vida...

De uma América a outra
Eu consigo passar num segundo
Giro um simples compasso
E num círculo eu faço o mundo...

Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
(Que descolorirá!)
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo
(Que descolorirá!)
Giro um simples compasso
Num círculo eu faço
O mundo
(Que descolorirá!)...

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Change Gon' Come é uma das canções que marcou uma época de desejo a uma realidade de direitos pra todos neste universo de direitos civis, feita por Sam Cooke, mas que foi interpretada com força poética por Ottis e que deixou em mim um tempo que vivi, mas que sangra em minha alma o quanto foi feito para termos direitos e liberdades de caminharmos ao sol...


                                                                  



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